
Em vários estados do Brasil, inúmeros espetáculos estão em cartaz. Seja nas ruas, em arenas, ou grandes anfiteatros, as reclamações do público são sempre as mesmas: o preço do ingresso e as filas.
É partindo dessa premissa que o grupo Teatro para Alguém, o primeiro grupo completamente virtual brasileiro, com uma produção de peças para veiculação exclusiva na web, vem levantando a bandeira da democratização da art e com uma programação composta por peças, mini-performances e seriados.
Nascido em 2008, o projeto começou quando a atriz Renata Jesion , resolveu fazer de sua sala de estar o próprio palco. Ao perceber que suas peças não atingiam lotação máxima, mesmo quando estava em evidência, decidiu produzir um "teatro para ninguém", ou melhor, para alguém que quisesse vê-la a qualquer momento, sem precisar ir ao teatro, cinema ou ligar a televisão.
Munida de recursos próprios e ajuda de alguns amigos, montou toda a infraestrutura necessária: uma câmera digital, refletores e a criação do site, no qual são apresentadas as peças online, com atores, diretores e textos voltados especialmente para a web. "Nunca fui muito ligada em Internet. O projeto surgiu da ideia de encenar peças de autores que eu admiro muito. A era digital torna isso muito mais fácil. Me preocupo em fazer uma coisa com qualidade e conteúdo", diz Renata.
Diferente do que se imagina, no Teatro para Alguém, não há improviso. Os atores costumam levar cerca de dois meses ensaiando, até que o trabalho seja gravado, ou apresentado ao vivo. Como em qualquer peça, o elenco varia de acordo com o enredo, interpretado por um grupo de cinco a seis pessoas, que encenam as histórias escritas por autores convidados.

Entre figurantes, câmeras e meses de ensaio, as produções ficam disponíveis no site. São todas gravadas no mesmo cômodo, sem ambientes externos, pois segundo Renata, isso dispersaria a essência do teatro. "Não é porque está na Internet que precisa ser capenga. Eu prefiro encenar no palco. Mas tem gente que não gosta de sair de casa, ou não tem acesso a um teatro de qualidade. A mídia digital é importante para isso".
O esmero é evidente. Uma equipe de audiovisual completa, comandada por diretores de fotografia e editores, acompanha de perto toda a produção. "A preocupação é mostrar uma montagem de qualidade. Nossa dificuldade é com o provedor, que comporta somente 100 espectadores em apresentações ao vivo".
Mas como toda trupe de teatro, o grupo também possui suas dificuldades (leia-se problemas financeiros). Atores convidados e colaboradores recebem uma pequena ajuda de custo, obtida através de patrocínios. Devido ao seu formato novo, o mercado corporativo ainda sente receio de investir no projeto.
Com gastos de cerca de R$ 15 mil por espetáculo inédito, o Teatro para Alguém viu seu caixa esvaziar de R$ 40 mil para R$ 3 mil. Procurando investimentos, Renata destaca o custo benefício para as artes cências online. "O valor para realizarmos 72 produções em um ano, equivale ao que uma grande emissora investe num episódio de minissérie".

Entre as críticas e as dificuldades, a proposta do grupo continua sólida: democratizar a cultura. Mas e quanto ao teatro tradicional? Dá para competir? De acordo com a idealizadora, cada um tem seu devido espaço. As diferenças são visíveis. A começar pela ausência de plateia real, que nesse caso, se manifesta através dos comentários feitos no próprio site. Ou seja, a falta da pulsação do público com o artista.
Para resolver esse problema, o grupo aposta em manter a mesma rotina normal do teatro, mas com menos intensidade e apresentações por semana, como costumam fazer as companhias que se apresentam offline. "Espero conseguir continuar produzindo. Acho que a mídia digital está aí para isso mesmo. É mais um canal para a gente se expressar, mostrar o trabalho e transmitir cultura. Não temos a pretensão de ofuscar o teatro tradicional", acrescentou Renata.
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