sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Brincando de ser coisa



Um das minhas maiores diversões quando criança era brincar de ser coisa. Desde muito cedo, passei a ficar sozinho em casa e como minhas companhias eram armários, liquidificadores e tapetes, passava horas buscando “sentir” e “pensar” como eles. Como sempre fui bastante esperto para minhas idades, sabia bem que meus companheiros eram todos inanimados. Então a brincadeira consistia basicamente em me abster de todos os pensamentos e sentimentos, humanos ou não. Fatalmente caia no sono e a diversão acabava sempre da mesma forma: balançado por minha mãe, em pânico, dentro do guarda-roupa ou embaixo de uma escada.
Hoje, a prática permanece, mas só acontece quando, à noite, no silêncio da casa que dorme, entro no banheiro, sento nu sobre a privada, pressiono o interruptor e viro escuridão.

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