segunda-feira, 13 de abril de 2009

Teatro em banda larga


















Em vários estados do Brasil, inúmeros espetáculos estão em cartaz. Seja nas ruas, em arenas, ou grandes anfiteatros, as reclamações do público são sempre as mesmas: o preço do ingresso e as filas.
É partindo dessa premissa que o grupo Teatro para Alguém, o primeiro grupo completamente virtual brasileiro, com uma produção de peças para veiculação exclusiva na web, vem levantando a bandeira da democratização da art e com uma programação composta por peças, mini-performances e seriados.


Nascido em 2008, o projeto começou quando a atriz Renata Jesion , resolveu fazer de sua sala de estar o próprio palco. Ao perceber que suas peças não atingiam lotação máxima, mesmo quando estava em evidência, decidiu produzir um "teatro para ninguém", ou melhor, para alguém que quisesse vê-la a qualquer momento, sem precisar ir ao teatro, cinema ou ligar a televisão.
Munida de recursos próprios e ajuda de alguns amigos, montou toda a infraestrutura necessária: uma câmera digital, refletores e a criação do site, no qual são apresentadas as peças online, com atores, diretores e textos voltados especialmente para a web. "Nunca fui muito ligada em Internet. O projeto surgiu da ideia de encenar peças de autores que eu admiro muito. A era digital torna isso muito mais fácil. Me preocupo em fazer uma coisa com qualidade e conteúdo", diz Renata.
Diferente do que se imagina, no Teatro para Alguém, não há improviso. Os atores costumam levar cerca de dois meses ensaiando, até que o trabalho seja gravado, ou apresentado ao vivo. Como em qualquer peça, o elenco varia de acordo com o enredo, interpretado por um grupo de cinco a seis pessoas, que encenam as histórias escritas por autores convidados.




Entre figurantes, câmeras e meses de ensaio, as produções ficam disponíveis no site. São todas gravadas no mesmo cômodo, sem ambientes externos, pois segundo Renata, isso dispersaria a essência do teatro. "Não é porque está na Internet que precisa ser capenga. Eu prefiro encenar no palco. Mas tem gente que não gosta de sair de casa, ou não tem acesso a um teatro de qualidade. A mídia digital é importante para isso".
O esmero é evidente. Uma equipe de audiovisual completa, comandada por diretores de fotografia e editores, acompanha de perto toda a produção. "A preocupação é mostrar uma montagem de qualidade. Nossa dificuldade é com o provedor, que comporta somente 100 espectadores em apresentações ao vivo".

Mas como toda trupe de teatro, o grupo também possui suas dificuldades (leia-se problemas financeiros). Atores convidados e colaboradores recebem uma pequena ajuda de custo, obtida através de patrocínios. Devido ao seu formato novo, o mercado corporativo ainda sente receio de investir no projeto.
Com gastos de cerca de R$ 15 mil por espetáculo inédito, o Teatro para Alguém viu seu caixa esvaziar de R$ 40 mil para R$ 3 mil. Procurando investimentos, Renata destaca o custo benefício para as artes cências online. "O valor para realizarmos 72 produções em um ano, equivale ao que uma grande emissora investe num episódio de minissérie".



Entre as críticas e as dificuldades, a proposta do grupo continua sólida: democratizar a cultura. Mas e quanto ao teatro tradicional? Dá para competir? De acordo com a idealizadora, cada um tem seu devido espaço. As diferenças são visíveis. A começar pela ausência de plateia real, que nesse caso, se manifesta através dos comentários feitos no próprio site. Ou seja, a falta da pulsação do público com o artista.


Para resolver esse problema, o grupo aposta em manter a mesma rotina normal do teatro, mas com menos intensidade e apresentações por semana, como costumam fazer as companhias que se apresentam offline. "Espero conseguir continuar produzindo. Acho que a mídia digital está aí para isso mesmo. É mais um canal para a gente se expressar, mostrar o trabalho e transmitir cultura. Não temos a pretensão de ofuscar o teatro tradicional", acrescentou Renata.

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